quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Guia de Ruas Sem Saída


As malas prontas em cima da cama. Uma gigantesca bola de aço negro demole a varanda. Os vasos na varanda. As flores, os vasos e a varanda explodem em estilhaços sob o sol. Carregadores enchem o caminhão de mudança. A bola negra de aço arrebenta o telhado da casinha branca. As telhas que parecem raspas de chocolate voando de cima da casinha branca que não parece mais uma casinha branca e sim um bolo coberto de chantilly. Tijolinhos de um marrom semelhante ao de barrinhas de doce-de-leite se despedaçam sob a abóbada. Agora são duas bolas negras de aço parecendo dois enormes escrotos estourando tudo. Ela solta seus espinhos de aço semelhantes a chocolate granulado pelo espaço. Uma assiste a tudo diante do guindaste que sustenta os escrotos de aço gigantes. O fusquinha está cheio de malas. Parado na calçada, observo o carro se afastar. Uma acena para mim através do vidro traseiro. O carro vai embora.

Adeus, Uma, adeus.

Adeus.

[Trecho da novela de Joca Reiners Terron "Guia de Ruas Sem Saída", que obteve a bolsa da Petrobras Cultural. O livro será publicado em 2011]